S. João Baptista (Jovem com carneiro)
Caravaggio - 1600
Pinta-me. amado meu. como te vou pedir.
Faz com que a cabeleira fique brilhante, castanha com reflexos dourados e deixa caracóis caírem livremente em caprichosa desordem.
Sob a fronte delicada e fresca desenha pestanas mais delicadas do que as escamas azuladas dos dragões.
Que o olho negro lance chispas de luz, mas com uma mescla de doçura; que refulja e que acaricie a fim de, ao mesmo tempo, inspirar temor e renovar a esperança.
Dá às faces a cor rosa e aveludada dos pêssegos e se a tua arte a isso conseguir resistir, acrecenta-lhe um rubor púdico.
Quanto aos lábios, na verdade não sei bem de que maneira os deverás pintar. Delicados, cheios de persuasão. Numa palavra, faz com que a tinta muda ganhe voz.
Que a cabeça repouse sobre um pescoço de marfim mais perfeito que o de Adónis. Que o peito e as mãos sejam de Hermes, as coxas de Pólux e o ventre de Dionísio.
E sobre essas encantadoras coxas, sobre essas coxas incendiárias, pinta um membro delicado que aspira já ao amor.
Que pena que a tua arte ciumenta não permita mostrar as costas! É o que há de mais perfeito! Quanto aos pés, que te poderei dizer? Para fazer o retrato de Bato, toma como modelo este Apolo. E se um dia vieres a Sarnos, pintarás Apolo segundo Bato.
Anónimo (Século VI)
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