Constança


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Foto de Rayce Conway

O toque seco das palmas das suas mãos foi das coisas que mais fascinaram Constança quando conheceu Henrique naquelas férias, ela na praia a passar duas semanas, ele ali perto, escavando numa área de prováveis vestígios romanos. Ele seguia arqueologia, ela andava na Faculdade de Letras e escrevia poesia.
Não beberam filtros de amor como Tristão e Isolda, mas desejam-se logo, tumultuadamente.
Constança ficara presa de forma irremediável ao ar sombrio de Henrique, à sua sexualidade transbordante, à perversidade do seu sorriso que nunca lhe contaminava os olhos verde-lago, mergulhados nas trevas de enormes pestanas negras que lhe ensombravam a cara de malares um tudo-nada salientes e magra como o corpo de ancas estreitas, por onde gostava de passar os dedos e a língua, lambendo.
Lambendo primeiro as ancas a direito, coladas aos ossos, e em seguida as virilhas com o sabor ácido de um fruto muito maduro mas ácido. Depois os testículos grandes e subidos sobre um pénis moreno, macio, enorme, que a obcecava.
Passaram dias na cama, em cima do tapete do quarto alugado, em cima das cadeiras e das mesas onde deixavam um rasto de esperma, humidades e suores. Só saíam à noite para comerem depressa um refeição com doces e molhos, que devoravam cheios de fome um do outro.
Conduzia-lhe os dedos através do prazer que sentia, os lábios, subindo devagar pelo corpo e pelos orgasmos, tentando ter acesso a uma fortaleza da qual-sabia-nunca mais poder sair. Ficaria do lado das trevas, do negrume de si própria, tacteando por dentro dos seus sentidos e pulsões mais escondidas, que sempre conseguira calar e que desde que conhecera Henrique se ergueram de onde estavam tapadas e pardas.
E toda ela se revolvia em gozo, em carne viva, exposta. Pelo sítio mesmo onde haveria de se perder.

[…]

Maria Teresa Horta
excerto de "A paixão segundo Constança H." , Círculo de Leitores, Lisboa, 1994


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